Acerca do potencial transformador (ou modelador) da educação oferecida pelo Estado às classes desfavorecidas economicamente, uma carta enviada pelos índios norte-americanos, em meados de 1700, em resposta ao convite para enviar seus filhos à Universidade de Mary e William, ilustra como as consciências sociais podem diferir:
Nós estamos convencidos, portanto, de que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que já são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas, e sendo assim não ficarão os senhores ofendidos ao saber que sua ideia de educação não é a mesma que a nossa... Muitos dos nossos bravos foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a sua ciência, mas quando eles voltaram para nós eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela sua oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar nossa gratidão, oferecemos aos nobres senhores da Virginia que nos enviem alguns de seus jovens que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e deles faremos homens (apud LEITE, 1979).
(...) o exemplo do lar vale mais que a instrução escolar. Isso não é querendo dizer que os filhos não saibam ler. Que devem saber alguma coisa para não ser um analfabeto mais de acordo de suas condições e de suas posses. Porque vendo o interesse de nossa classe pobre os sacrifícios que fazem para querer formar os filhos. Assim como faz o rico que tem tudo para o conforto dos filhos, tirando das costas do pobre para fazer o filho dele crescer. O que eu vejo é a nossa classe pobre mandar o filho para classe rica; desejo de um dia seu filho virar um tubarão para engolir a sua própria família; ou melhor, a sua própria classe. Eu nunca me preocupei com essa educação nem para mim e nem para meus filhos, esta educação de cultura e ciência, pois tive a oportunidade de quem me desse gratuitamente mas nunca tive vontade de ser grande, minha preocupação maior foi sempre de ser o que eu sou, de ser pequena e imitar os meus pais, ter segurança no meu pouquinho de consciência e procuro cada vez mais me assegurar, e me perguntar todas as vezes se estou cumprindo com as minhas responsabilidades, consciente no meu trabalho e na minha família, principalmente com os meus filhos, se estou de fato sendo companheira amiga dos mesmos; de todas as horas; é sempre uma revisão que gosto de fazer porque não é fácil, os filhos sempre procuram imitar os pais, nós todos temos os nossos defeitos, que ninguém é perfeito; sempre temos um lado negativo; também temos um lado positivo, deixamos o negativo de lado; e reforçamos o positivo mostrando para nossos filhos o que seus pais são: ou seja, agricultor ou operário ou rendeira ou bordadeira, que eles vão querendo ser o mesmo (GARCIA, 1980).
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