(F) O golpe de 1964 teve os militares nacionais como os principais operadores concretos, já que foi a força das armas com o cerco à Brasília que forçou a saída de João Goulart da capital e, posteriormente, do país, dando as condições para a legitimação parlamentar do golpe em curso. No entanto, os descontentamentos de setores da oficialidade com João Goulart giravam em torno do suposto risco de o Brasil tornar-se uma república sindical, com inclinações ideológicas propensas ao comunismo.

(F) Com a abertura dos arquivos norte-americanos relativos ao Brasil nos anos 1960, hoje sabe-se da atuação do governo americano na preparação e no suporte às ações militares que levaram o Brasil ao rompimento democrático em 1964. Ao contrário do que é afirmado na alternativa, as propostas políticas e econômicas pretendidas pelo governo de João Goulart iam de encontro aos interesses geopolíticos dos EUA.

(F) O clima de acirramento político que caracterizou os últimos anos do governo de João Goulart certamente contribuiu para os encaminhamentos que culminaram no golpe de 1964. O evento simbólico desse movimento foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ocorrido em março de 1964 e organizado por setores do clero e entidades femininas de classe média, com apoio do empresariado e de políticos da oposição, em resposta ao comício de 13 de março, em que João Goulart anunciou as medidas do programa de reformas de base. Contudo, o sentido do texto é cristalino em relacionar uma série de fatores estruturais, de longa duração, associados a interesses internacionais, como o conjunto responsável pelo rompimento da democracia ali ocorrido.

(V) O debate acadêmico em torno dos motivos que levaram o Brasil à ruptura democrática em 1964 comportou muitas interpretações históricas e políticas ao longo das décadas seguintes. Atualmente, há, no entanto, pontos consensuais que redundam, sobretudo, na ideia da ocorrência de uma pluralidade de condicionantes interligados, e não meros fatores isolados. Reconhece-se mais claramente o papel do governo dos EUA, considerando o contexto da Guerra Fria; a oposição parlamentar e sua inclinação antidemocrática; o apoio de setores da Igreja em sua escalada persecutória ao suposto risco comunista, das classes empresarial, latifundiária e médias urbanas, além de veículos de imprensa e setores militares, que, de alguma maneira, enxergavam na atuação de João Goulart um descompasso com seus interesses de classe.

(F) As ações discricionárias, autoritárias, arbitrárias e excludentes, das quais fala a autora, não se reportam ao período anterior à derrubada de João Goulart, tendo influência nesse episódio, mas dirigem-se ao modus operandi.