Questão de Ecossistema

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TEXTO

A ideia de poder escolher um embrião saudável abre portas para discussões sobre a possibilidade de definir outros aspectos genéticos dos bebês. Entretanto, especialistas afirmam que ainda não existe tecnologia capaz de criar o superbebê. Para o médico geneticista Salmo Raskin, um dos motivos é que não se tem conhecimento completo para analisar todos os genes. "Nós não conhecemos todos os genes relacionados a cor dos olhos ou a cor da pele. Além disso, já é complexo analisar dois genes. Ter de analisar 200 é absolutamente impossível de se realizar hoje", afirma. "A manipulação genética, atualmente, é uma grande bobagem, pois nós ainda não conseguimos afirmar que um olho vai ser azul ou castanho", diz o geneticista Ciro Dresch Martinhago. Selecionada em laboratório com base em critérios genéticos para salvar a irmã, Maria Clara Reginato Cunha já é considerada um marco na ciência brasileira. O nascimento dela, em fevereiro, mostrou evidente progresso na pesquisa na área no país. O reverso da medalha, porém, tem trazido questionamentos bioéticos, com novo combustível para antigas polêmicas: é correto fazer descarte de embriões sadios? Seleção em laboratório não se confunde com eugenia? Estamos em busca do bebê perfeito? Isso é certo? De acordo com o geneticista que atendeu os pais de Maria Clara, Ciro Dresch Martinhago, os embriões excedentes em um procedimento de seleção genética podem ser tanto descartados, quanto congelados. "É uma decisão do casal, mas na maioria das vezes os embriões são descartados", explica. Segundo o professor de genética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Salmo Raskin, o problema não nasceu com a seleção genética. "A fertilização in vitro também gera embriões sobressalentes. A diferença é que, na seleção genética, os descartados geralmente possuem doença", afirma. O assessor da comissão Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Rafael Fornazier, defende que "é louvável a busca de soluções para sanar o problema da esterilidade, porém, isso deve ser feito no respeito à dignidade da criança, que tem o direito de ser o fruto da união conjugal dos pais." Para o presidente regional da Sociedade Brasileira de Bioética e coordenador do mestrado de Teologia da PUCPR, Mario Antonio Sanchez, o descarte é um problema em cima do outro. "Se é possível selecionar um dos embriões é porque ele está vivo e tem identidade. Mesmo o congelamento, é um descarte a longo prazo", afirma. "Ao produzir vários embriões, a seleção genética aparece, cada vez mais, como possibilidade de escolha de uma criança mais perfeita. Aqui cabe a pergunta: não seria isso uma forma de eugenismo, reprovado pelo Conselho Federal de Medicina?", questiona o padre Fornazier. Para Sanchez, a seleção genética pode ser, sim, uma forma de eugenia. "Não podemos definir que alguém vale pelos seus traços biológicos e descartar os inaptos", opina. O professor de reprodução humana da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Karam Abou Saab conta que a legislação permite a seleção para evitar doenças. Mas, no caso de Maria Clara e sua irmã Maria Vitória, a compatibilidade também foi motivo de descarte. "Embriões sadios, mas que não são compatíveis, também acabam sendo excluídos. Isso não é justo, nem ético, pois não posso descartá-los sem motivos sérios", destaca Saab.

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