Questão de Medicina Legal

O enunciado descreve um paciente de um mês com icterícia com vários sinais de alarme: persistência por mais de 10 a 14 dias; extensão até zona V de Kramer, indicando níveis elevados de bilirrubina; e relato de fezes claras e urina escurecida (acolia fecal e colúria), apontando para a presença de colestase. A presença de colestase no neonato é sempre patológica e exige investigação urgente; nesses casos, a alteração esperada na dosagem de bilirrubinas é a predominância de bilirrubina direta, como ocorreu aqui; não há, portanto, indicação de fototerapia (letra A incorreta). Os sinais de colestase e o predomínio de bilirrubina direta também afastam a hipótese de icterícia do aleitamento materno, um cenário que poderia justificar a introdução de complemento. Além disso, o quadro tem início ainda na primeira semana de vida (letra B incorreta); a história tampouco é sugestiva de um quadro de sepse (alternativa E incorreta). A principal hipótese diagnóstica em um recém-nascido ou lactente jovem com icterícia persistente e sinais de colestase é a atresia de vias biliares (AVB). Trata-se de uma condição relativamente rara, que acarreta na obstrução das vias biliares e é a causa mais frequente de insuficiência hepática levando à necessidade de transplante na infância; por isso, diagnóstico e intervenção precoces são cruciais. A investigação inclui a realização de ultrassonografia, na qual a presença de massa fibrosa de forma triangular na região porta-hepática (sinal do cordão triangular) é altamente sugestiva. A biópsia hepática percutânea é o procedimento mais valioso na investigação pré-operatória, e a proliferação de ductos e presença de plugs biliares, com fibrose e edema portal, são achados histopatológicos sugestivos. A colangiografia intraoperatória é o padrão-ouro para o diagnóstico da AVB, pois demonstra a anatomia das vias; deve ser realizada se os demais exames não forem suficientes para definição diagnóstica, e a cirurgia de Kasai pode ser realizada no mesmo ato operatório. O prognóstico desta doença é melhor quando diagnosticada e tratada antes da oitava semana de vida; idealmente, a cirurgia de Kasai (portoenterostomia) deve ser realizada antes dos 40 dias, em uma tentativa de evitar ou adiar a necessidade de transplante hepático. Esta criança, ainda com um mês de vida, deve, portanto, ser internada para investigação urgente e abordagem cirúrgica (portoenterostomia de Kasai) se confirmada a AVB.

A
Não há indicação de fototerapia.
B
O quadro tem início na primeira semana de vida.
C
A principal hipótese diagnóstica é a atresia de vias biliares.
D
A colangiografia intraoperatória não é necessária.
E
A história é sugestiva de um quadro de sepse.

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